quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
O fantasma apaixonado, Joseph Mankiewicz
Uma das obras-primas de Mankiewicz e um dos mais belos filmes hollywodianos. Neste terceiro filme realizado para a Fox, cujo roteiro não foi escrito por ele, mas apenas corrigido, refinando (peaufinant) notadamente o personagem de Miles Fairley. Mankiewicz se expressa tão profundamente quanto nas obras que ele tirou dos seus próprios scripts. O Fantasma Apaixonado oferece uma mistura rara, quase única, entre a expressão de uma inteligência solta (deliée) e satírica (caustique) e um gosto romântico pelo devaneio, demorando-se sobre as decepções, as desilusões da existência. O filme não pertence a qualquer gênero conhecido e cria ele mesmo o seu gênero para contar, com uma poesia dilacerante, a superioridade melancólica do sonho sobre a realidade, o triunfo daquilo que poderia ter sido sobre aquilo que foi. É igualmente um filme sobre a solidão, sobre essas almas insatisfeitas e sonhadoras para as quais a solidão abre o caminho em direção a natureza, a uma forma quase imaterial de felicidade. Todos os elementos da mise em scène, dos atores ao cenário, dos diálogos à fotografia, são soberbos e marcantes do selo da perfeição. Sublime composição de Bernard Herrmann. Acompanhando a meditação do autor, ela sublinha às vezes até o limite da explosão o contido lirismo da obra. Graças a ela, por exemplo, os planos de gaivotas e de ondas ou aqueles onde Gene Tierney caminha ao longo da praia e que indicam a passagem dos tempos figuram entre os mais belos do filme; no entanto, poderiam passar como momentos dos mais banais. Jacques Lourcelles Tradução: Matheus Cartaxo
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