Primeiro longa-metragem de Robert Bresson. O cineasta, que nesta época está longe de ser um teórico, sente instintivamente que sua obra tem necessidade para se realizar de um material forte, rico e ardente de um intenso fogo interior.Giraudoux, Cocteau, Bernanos lhe fornecerão. Aqui,a língua pura, límpida e no entanto rutilante do autor da Ondina ( em um de seus últimos textos antes de morrer), assim como uma intriga fina mas fortemente dramatizada permitem ao cineasta realizar esta ascese visual em direção à qual ele tende. O despojamento, que aqui é sobretudo questão de luz, se aplica lógicamente a uma matéria rica; de que, sem isso, esta se despojaria? Se o teatro está presente no filme pela construção da narrativa, a importância dos diálogos e dos monólogos, não se deve negligenciar, em relação a Bresson, a parte, ainda mais importante, do romancista, do criador de caracteres, já que nele o caráter é como se fosse a “casca” ( écorce) da alma dos personagens. Com Anne-Marie, alma agitada, orgulhosa, obstinada, que sua sede de Absoluto conduzirá a se destroçar contra os obstáculos do mundo, Bresson nos dá neste filme um esboço do personagem do cura de Ambricourt, o herói de Diário de um padre. Esboço também, de certa maneira, de todos seus personagens ulteriores. Anne-Marie e o jovem padre são o testemunho desta juventude eterna, ainda próxima da infância ( Renée Faure , em sua interpretação, demonstra isso admiravelmente), a respeito da qual Bernanos escreveu: “Eu me digo também que a juventude é um dom de Deus, e como todos os dons de Deus, ele é sem arrependimento. Só são jovens, verdadeiramente jovens, aqueles que Ele designou para não sobreviver à sua juventude”. Jacques Lourcelles Tradução: Luiz Soares Júnior.
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