quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Fat City, John Huston
Primeiro filme rodado por Houston nos Estados Unidos depois de Os desajustados ( 1961). Como na maioria de seus filmes, este aqui, em forma de balada melancólica, possui pouquíssima intriga, e Huston manifesta em relação a ela uma quase total indiferença. Isto tornou-se cada vez mais corrente em seu cinema desde The asphalt jungle. O que lhe interessa são os personagens, suas errâncias, suas conversações, ainda mais erráticas que seus deslocamentos no espaço ( aqui Huston quase vence seu “irmão caçula” neste domínio, Cassavetes), suas ligações amorosas, camaradagem, sua solidão, e, é claro,a atmosfera social na qual eles se situam. O tema, hustoniano por excelência, do fracasso aqui é completamente interiorizado nos dois personagens principais. Suas reações, apesar de terem apenas dez anos de diferença, permitem mensurar o abismo que separa a adaptação desvairada ao fracasso ( Tully) de sua descoberta ainda matizada de esperança ( em Ernie). Contudo, é mais ou menos certo que Ernie, em dez anos, estará na mesma exatamente na mesma situação de Tully. De forma acessória- mas será tão acessória assim?-., o filme fala também do alcoolismo; os personagens bebem para se consolar da realidade e em seguida falam interminavelmente, para se consolar por haver bebido. A partir dos anos 70, a obra de Huston encontra uma nova juventude, e vai se tornar uma das mais tocantes do cinema americano, em uma época em que este havia empobrecido terrivelmente.O que nos parece mais valioso nesta evolução não é uma renovação dos temas ou dos assuntos, mas do olhar, como se Huston tivesse enfim encontrado, depois de tantas tentativas, o ângulo justo ( justo de seu ponto de vista) de onde observar a condição humana. Neste olhar, encontramos muito de compaixão viril ( o contrário de miserabilismo), um conhecimento íntimo do assunto mas também uma certa distância crítica, que mescla amizade e ironia. O mais espantoso neste olhar é que ele seja absolutamente o mesmo quando Huston pousa os olhos sobre personagens, situados em algum lugar entre O’Neil e Steinbeck, que são como irmãos para ele ( Huston praticou boxe com 18 anos em lugares semelhantes aos descritos aqui); ou quando ele examina “bonshommes” cuja experiência se encontra a anos luz da sua, como os fanáticos e os obcecados religiosos de Wise Blood. É o olhar, estranhamente sereno, de um cineasta clássico que entra em seu período pós-clássico e testamentário. Interpretação fantástica. Fotografia soberba de Conrad Hall, que alia o realismo a uma sutil sofisticação crepuscular para iluminar os lugares e as pessoas que Huston conheceu, assim como vários intérpretes não profissionais. Um dos grandes filmes em cores dos anos 70. Jacques Lourcelles, Dicionário de Filmes. Tradução: Luiz Soares Júnior
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