Em seus filmes, Imamura pinta a emergência das pulsões e dos instintos mais primitivos nos seres pertencentes às sociedades ditas civilizadas. Ele adora contar a história ( ou a contra-história) do Japão ao longo de várias décadas. O período do pós-guerra fascina-o particularmente. Seu Japão é um mundo bárbaro, onde cada personagem tenta sobreviver através do comércio de corpos e de bens, a astúcia, a violência. A história de Enokizu, o herói de Minha vingança, que se vinga de estar vivo naqueles que transmitem a vida ( seu pai, sua amante, grávida dele), é uma história de sexo e de sangue, descrita, ao longo de uma narrativa entrecortada e ziguezagueante, por um clínico, um entomologista que só acredita no behavorismo. Imamura desconfia de toda explicação referente à psicanálise, à sociologia, embora seus filmes estejam repletos de fatos suscetíveis de enriquecer estes diversos domínios. As causas, as intenções que se poderiam descobrir sob cada ato humano são para ele um abismo, impossível - e portanto, inútil- de sondar.
Sua temática, no interior do cinema japonês, não é exclusividade sua, mas ele a eleva, na mise-en-scéne, a um nível de brutalidade, intensidade e impassibilidade impressionantes. Ele busca sobretudo que seus filmes- particularmente Minha vingança- sejam tão obscuros, impenetráveis e opacos quanto o próprio universo. Sob esta ótica, Minha vingança é um dos poucos filmes da história do cinema que se poderia qualificar de faulknerianos. Jacques Lourcelles Tradução: Luiz Soares Júnior.
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