quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Anjo vermelho, Masumura


Representante prolífico e eclético de uma certa nouvelle vague japonesa ( vide também Paixões juvenis de Ko Nakahira, 1956), Masumura trabalhou para Daiei, a companhia das últimas obras-primas de Mizoguchi ( de quem ele foi assistente) até sua falência em 1971. Ele explora novos territórios na audácia e violência. O universo paroxístico, apocalíptico de Anjo vermelho se situa em algum lugar entre Goya e Céline. A utilização extremamente trabalhada do scope preto e branco, notadamente nas cenas de horror coletivo ( onde centenas de feridos uivam no hospital) confere à intriga uma grandeza trágica, sensível também nos diálogos, por exemplo nas cenas entre a enfermeira e o cirurgião. A pureza impassível dos traços da heroína imprime à sua composição e a seu jogo uma poderosa fascinação. Seu personagem não é, falando propriamente, nem benéfico nem maléfico. Compassiva em diversas circunstâncias, unindo o sexo e a morte, ela é um ser mais sutil: uma espécie de emanação atroz e lógica dos horrores da guerra, entre os quais ela evolui como um espectro, para além do Bem e do mal.
Jacques Lourcelles
Tradução: Luiz Soares Júnior.

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