quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O segredo da Porta Fechada, Fritz Lang 1948

Segundo e último filme da Diana Productions, sociedade fundada por Lang, Walter Wanger , sua mulher Joan Bennett e Dudley Nichols. (Diana era o nome da filha de Bennett e de seu primeiro marido). Depois do fracasso deste filme e do fim da Diana, começará para Lang a fase mais errática de sua carreira. O segredo da porta fechada é o mais onírico,, mais barroco , mais cheio de poesia de todos os seus filmes americanos. A psicanálise, que aqui não é aprofundada enquanto método científico e terapêutico, serve sobretudo de suporte concreto à revelação da obsessão criminal do herói, que se liga de maneira central ao universo languiano. “Somos todos filhos de Caim”, diz o personagem interpretado por Redgrave quando de seu processo imaginário; esta frase poderia ser posta como princípio em todos os filmes de Lang. O fato de o personagem não ser um criminoso literal, mas assombrado pela idéia do crime, torna-o ainda mais languiano. Lang era intimamente convencido de que cada homem é um criminoso em potencial, e o exprimia frequentemente em conversações privadas. Às vezes, perguntava a algum de seus interlocutores, com um tom falsamente interrogativo, se este jamais desejara matar alguém. A resposta negativa suscitava nele um ceticismo completo.

Uma das particularidades do filme (que engendra aliás seu poder poético) é sua construção profundamente subjetiva, que nos permite penetrar nos pensamentos e sentimentos da heroína, especialmente graças a um dos mais belos comentários off jamais ouvidos em um filme. No interior da visão da heroína (que existe no filme enquanto “sujeito”), o personagem masculino é considerado sucessivamente como objeto de fascinação, amor, por fim de estupor e terror, os quais serão sempre mesclados intimamente à presença do amor. A extrema liberdade da dramaturgia permite a este “objeto” tornar-se, por seu turno, “sujeito”, na única e célebre seqüência do processo imaginário que o herói intenta contra si mesmo. A foto, os cenários, o découpage, minuciosamente pensados préviamente por Lang com a ajuda de Stanley Cortez, dão ao menor interior uma intensidade expressiva próxima do fantástico. O plano típico do filme é o da heroína atravessando algum corredor ou vestíbulo, transformado pelas zonas de sombra e de luz em um lugar perigoso, ao mesmo tempo ameaçador e fascinante. Ela deve percorrê-lo integralmente, com o propósito de atingir aos limites de seu medo, do obstáculo, do enigma e do segredo que ainda a separam de sua felicidade. Pois O segredo da porta fechada é, na cronologia da obra de Lang, o último filme onde o autor ainda deixa a seus personagens uma chance - mínima que seja - de felicidade.


Jacques Lourcelles. Tradução: Luiz Soares Júnior.

Um comentário:

História é Pop! disse...

Filme noir que faz parte do período do “Gótico Feminino” de Hollywood explorando o relacionamento fecundo de uma mulher (aqui, Joan Bennedt) com um homem (Michael Redgrave) que é ao mesmo tempo enigmático, sedutor e (à medida que a trama se desenrola) perigoso