Under Capricorn - 1949. USA (112’). Prod. Warner Bros. Transatlantic Pictures (Sydney Bernstein e Alfred Hitchcock). Real. Alfred Hitchcock. Roteiro: James Bridie, Hume Cronyn, a partir de R. de Helen Simpson. Foto: Jack Cardiff (Technicolor). Música: Richard Addinsell. Intérpretes: Ingrid Bergman (Lady Henrietta Flusky), Joseph Cotten (Sam Flusky), Michael Wilding (Charles Adare), Margaret Leighton (Milly), Jack Watling (Winter), Cecil Parker (Sir Richard), Denis O’Dea (Corrigan).
Entre Rebecca e Vertigo, um destes devaneios românticos de Hitchcock onde um retrato feminino constitui o fundo da intriga. O roteiro foi escolhido por Hitchcock por agradar a Ingrid Bergman, uma das vedetes holywoodianas mais incensadas da época. Por um emprego sistemático e admiravelmente fluido dos planos longos e dos movimentos de câmera - técnica retomada do seu Festim diabólico, mas aqui com uma outra finalidade -, por uma lentidão e uma solenidade desejadas da intriga, uma dramatização mais discreta que de hábito, uma elipse quase total das cenas de ação, Hitchcock dá a seus personagens e às relações que se encadeiam entre eles uma estranha espessura romanesca. O que se passa no interior de seus corações é a verdadeira matéria do filme. Os temas hithcockianos do falso culpado e da confissão salvadora adquirem um papel muito insólito na economia da intriga, uma vez que o falso culpado o é voluntariamente e o conteúdo da confissão repousa na verdade sobre a revelação de um sacrifício do qual o beneficiário não deseja mais ser o único conhecedor. Todos os personagens vivenciam seus grandes sentimentos até o limite, e uma série de sacrifícios recíprocos encadeia uns aos outros de forma mais sólida que em um complot. Mesmo o anjo negro do filme (a governante Milly) age levada por um sentimento de amor profundo que, sem de forma alguma absolvê-la, às vezes a coloca ao nível dos outros personagens.
Sob o signo de Capricórnio é também um dos mais belos Technicolor da história do cinema. Soberba música de Richard Addinsell, o compositor de Sea devils.Incompreendido pelo público e pela crítica (com a exceção dos redatores da Cahiers du Cinéma), detestado naquele momento por Hitchcock, que viu no insucesso do filme um grande motivo de vergonha (o que demonstra, afinal, muita humildade de sua parte), este filme, onde a palavra tem uma extrema importância, especialmente como uma forma de exorcismo do passado, é uma das jóias de sua obra.
Bibliografia: deve-se ler o admirável artigo de Jean Domarchi consagrado ao filme, “A obra-prima desconhecida”, publicado no número 39 de Cahiers du Cinema (outubro de 1954, reeditado em 1980), primeiro panorama publicado sobre o cineasta. “Se a literatura moderna não tem mais o tempo de contar uma história e se o mito do anti-herói é um pretexto cômodo para resolver problemas que interessam unicamente aos técnicos, quem, pergunta Domarchi, quem se encarregará de narrar ao homem a sua própria história?”.
Jacques Lourcelles. Traduzido por Luiz Soares Júnior.
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