1952. USA (71’). Prod: RKO (Stanley Rubin). Real: Richard Fleischer. Rot: Earl Fenton, baseado em uma história de Martin Goldsmith e Jack Leonard. Foto: George E. Diskant. Int: Charles Mcgraw (Walter Brown), Marie Windsor (Mrs. Neil), Jacqueline White (Ann Sinclair), Gordon Gebert (Tommy Sinclair), Queenie Leonard (Mrs. Troll), David Clarke ( Joseph Kemp) Peter Virgo (Densel), Don Beddoe (Gus Forbes), Paul Maxey (Sam Jennings), Peter Brocco (Vincent Yost).
Laconismo, eficácia, tensão, mal-estar, ação incessante e sem tempos mortos: The narrow margin leva todas estas noções ao seu limite extremo de virtuosismo, especialmente devido à exigüidade do cenário do trem, onde se desenrolam três quartos da ação, e constitui assim uma espécie de compêndio (précis) da mise-en-scéne hollywoodiana, tal como a que se praticou em seu mais alto nível no filme noir e nos filmes B. A espantosa perfeição formal do filme marca o fim do longo aprendizado (uma dezena de filmes em cinco anos) sofrido por este superdotado da mise-em-scéne que já à época era Richard Fleischer.
The narrow margin é, com efeito, seu último filme para a RKO, (onde ele realizou o essencial de seus primeiros filmes), e o anti-penúltimo filme em preto e branco em formato normal desta companhia (antes da deliciosa comédia realizada por Stanley Cramer, The happy time).
Apesar de seu brilhantismo, o filme está longe de ser um puro exercício de estilo. É também um completo filme de autor, sobretudo por esta ausência voluntária de humor e de ambigüidade moral no herói, através da qual Fleischer afirma suas escolhas e o tom de gravidade que ele pretende dar à sua história.
Por outro lado, The narrow margin mostra estranhas semelhanças com obras muito posteriores de seu autor, como The new centurions (1972). Nos dois filmes, é o mesmo aspecto trágico, absurdo, improvável e suicida da condição policial que é designado. O que acontece em The narrow margin antes e durante a viagem de trem se assemelha com efeito a uma terrificante tragicomédia de erros. Gus Forbes, o parceiro do herói, morre por nada, assim como a mulher policial (Marie Windsor), que teria dado sua vida para testar a honestidade de seu colega.
Quanto à verdadeira Sra. Neil, esta não tinha necessidade de ninguém para chegar sã e salva em Los Angeles, e é justamente seu encontro (fortuito) com o policial que põe em perigo sua vida! Diante desta impossibilidade real de agir, o policial interpretado por Charles McGraw tenta sobreviver e realizar seu trabalho com esta obstinação taciturna e petulante que encontraremos com frequência nos heróis de Fleischer, notadamente nos personagens interpretados por George C. Scott em The new centurions e The last run.
No que diz respeito a The narrow margin, este pessimismo não é apenas a característica convencional e estrutural de um gênero mas o índice certo, embora tratado de forma menor e com uma grande modéstia estética, de uma grave crise moral da civilização urbana americana, crise esta da qual os filmes de Fleischer , entre outros, são os perturbadores espelhos.Como em muitos filmes de Fleischer, este compêndio de mise-em-scéne é, também e sobretudo, um compêndio (précis) de decomposição.
Nota suplementar:
Impressionado pelo filme, Howard Hughes, então chefe da RKO, propôs refazê-lo a Fleischer com um orçamento muito maior, tendo como stars Robert Mitchum e Jane Russell. Isto não interessou a Fleischer, o que lhe custou um imenso atraso no lançamento do filme. Realizado em 13 dias em 1950, o filme só foi lançado na primavera de 1952, e obteve um imenso sucesso.
Jacques Lourcelles, Dicionário de filmes. Traduzido por Luiz Soares Júnior.
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