1946. Itália (106'). Prod: CDI/Lux Film. realização: RICCARDO FREDA. Roteiro: Mario Monicelli, Stefano Vanzina e Riccardo FREDA, a partir da novela Doubrovski, de Alexandre Pushkin. foto: Rodolfo Lombardi. Música:Franco Casavola. Int: Rossano Brazzi (Vladimir Doubrovski), Irasema Dilian (Mascha Petrovitch), Gino Cervi (Kirilla petrovitch), Rina Morelli (Irene), Harry Feist (Serge Ivanovitch) Paollo Stoppa (um bandido), Inga Gort (Maria).
Terceira adaptação da novela de Pushkin “Doubrovski”, depois da adaptação de Clarence Brown com Valentino (1925) e do russo Alex Ivanovsky (1937). Segundo filme de capa e espada de Freda, O Águia negra participa do renascimento do gênero, renascimento iniciado pelo diretor antes mesmo da queda do fascismo, com seu Don Cesare de Bazan.
O filme é um imenso sucesso comercial: esteve em primeiro lugar no circuito italiano de 1946, primeiro ano no qual a Itália retoma uma produção quantitativamente normal, com 46 longas-metragens. Daí vem sua dupla importância para a obra de Freda, importância esta confirmada por suas escolhas, e para a evolução de uma parte do cinema italiano.
Diametralmente oposto ao neo-realismo nascente, assim como ao caligrafismo moribundo de Soldati e Castellani, o espírito e o dinamismo da mise-en-scéne de Freda abrem caminho a uma renovação triunfal do filme de aventuras, seguindo diretamente o fio desta tradição heróica e espetacular, consubstancial a toda história do cinema italiano.
Freda se serve do filme de aventuras para exaltar as forças da vida, ao contrário dos cantos fúnebres do caligrafismo (basta comparar seu filme a Um colpo di pistola, outra adaptação de Pushkin, dirigida por Castellani).
Freda se interessa também a dar todo o relevo possível a personagens de heróis individualistas, forjando seus destinos com as próprias mãos e contra todos os obstáculos. Nisso também ele se encontra na contra-corrente. Ele vira as costas ao acinzentado (grisaille) unanimista do neo-realismo, à sua resignação mais ou menos confessa, assim como à sua prodigiosa faculdade de atenção ao presente.
Antes de tudo, sua obra é a de um estilista de qualidades múltiplas, cujas preferências e tomadas de posição vão frequentemente no sentido do gosto do grande público.
Sábio ritmo do découpage; estilização esplêndida da reconstituição plástica; cenas de ação coletiva, duelos e perseguições com um frenético brio; fantasia e poder: por que estas qualidades seriam exclusividade do cinema americano?
Toda a obra de Freda, desde suas origens, se rebela contra esta idéia. Este realizador tentou provar que a velha Europa, mesmo recém-saída de um conflito mundial que em muitos sentidos a desvitalizou, possuía ainda uma fonte ardente, que ela era capaz de ilustrar de maneira criativa e vigorosa uma história que, tais como as de Dumas, Dante e Hugo - adaptados em seguida pelo mesmo diretor-, lhe pertence de direito.
Nota: Cinco anos mais tarde, Freda vai dirigir uma continuação extremamente brilhante para este filme, chamada La vendetta di Aquila Nera (1951).
Jacques Lourcelles, Dicionário de filmes. Traduzido por Luiz Soares Júnior.
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