quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Sua Única Saída, Raul Walsh

Sua Única Saída é um dos poucos filmes - um punhado - que demonstram de maneira definitiva os poderes do cinema, quando se encontra nas mãos de um artista genial, como aqui Raoul Walsh. De um lado western psicanalítico, poema e afresco cósmicos de outro, o território e a ambição do filme são imensos, quase ilimitados. A trajetória da sina de um personagem atormentado pelo peso de seu passado (tema walshiano por excelência) permite a Walsh estabelecer e explorar um universo que começa nas profundezas do coração de um homem e vai se perder em algum lugar no infinito.
Narração concreta, física, de um ódio mais denso que a pedra (o de Grant Callum pela família dos Rand), Sua Única Saída é também uma imaterial história de fantasmas onde, por exemplo, uma noiva vestida de branco sonha cumprir, na noite de suas núpcias, um improvável projeto de vingança contra aquele com quem acabou de casar. E a tragédia do herói e da heroína, tal como é descrita aqui, é que precisarão triunfar não somente sobre a hostilidade bem concreta de seus inimigos, como também de seus próprios sonhos, de seus pesadelos e de todas as obsessões que conduzem seus imaginários. No cinema, desfrutar de gênio, para um diretor, é antes de tudo e principalmente ser capaz de o partilhar com os outros. Em Sua Única Saída, Max Steiner nos dá a quintessência de suas partituras: uma música soturna, épica, grandiosa, que contém também um lirismo secreto. Os céus negros, os rochedos, os interiores precariamente iluminados por James Wong Howe são gravuras diante das quais, por instantes, a arte plástica de um Dreyer se assemelha a um esboço de debutante. Quanto aos atores, Robert Mitchum tem o olhar impenetrável daqueles que não conseguiram decifrar o enigma de seus destinos; ao seu redor, Teresa Wright ,e sobretudo Judith Anderson, se sacrificam a uma ênfase teatral, a uma solenidade vinda do fundo dos tempos, mas que se encontram tanto uma quanto outra rejuvenescidas, reinventadas pelo cinema.

Dicionário de filmes, Jacques Lourcelles.
Tradução: Bruno Andrade.

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