Uma adaptação moderna da Dama das Camélias. Ao contrário de Riccardo Freda, Cottafavi sempre fez cinema comercial ( popular) contra sua vontade. Tão logo pôde, foi para a RAI e dirigiu trabalhos mais nobres ( adaptação de peças ou romances clássicos). Ele tenta aqui transformar um melodrama a seu ver muito canhestro em uma evocação raciniana da impossibilidade de amar e ser amado. Suas ambições com frequência o denunciam, e fazem dele uma espécie de “Antonioni do pobre”. Vide as cenas de party onde os personagens se entediam, e a descrição convencional dessas figuras deslocadas ( mal dans sa peau) e sem força de caráter, perdidas em seus problemas de comunicação e melancolia. A sensibilidade aristocrática de Cottafavi só consegue se exprimir plenamente na direção de atores- sobretudo de atrizes. Bárbara Laage, como uma falsa vagabunda que permanece ingênua e vulnerável, empresta densidade à sua personagem e nos faz ressentir intensamente seu desequilíbrio íntimo. Ela está constantemente dividida entre os élans espontâneos de ternura que desejaria reprimir e uma dureza calculista. Pouco a pouco submergida pelo amor, perde sua ambigüidade e se torna uma personagem transparente e trágica: uma vítima, destruída muito mais por sua melancolia que pelos acidentes materiais de sua vida movimentada. Com o auxílio de uma mise em scéne fundada sobre a interiorização e o silêncio, Cottafavi é vitorioso em sua alquimia, e metamorfoseia uma personagem de melodrama em uma heroína de tragédia. Mas isto a despeito do contexto social e realista do filme.
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