Depois de Don César de Bazan e o primeiro Áquila nera, duas obras que restituíam ao filme de aventuras italiano seu vigor, seu picaresco, seu dinamismo originais, em oposição ao caligrafismo mórbido do período fascista, Freda assina este Cavaleiro misterioso, uma narrativa de tom muito mais pessoal e uma de suas obras-primas. Seu virtuosismo o leva a incluir um retrato original de Casanova ( Gassman aqui no início de carreira- é seu sétimo filme- é o mais verossímil e “raçudo” de todos os Casanovas da tela) em uma narrativa de aventuras polivalente que possui, ao longo das sequências, a progressão enigmática e obscura de um récit policial ou a atmosfera insólita e angustiante de um conto quase fantástico ( as cenas em Viena). Sem, evidentemente, esquecer este clima de intriga e de “marivaudage” ( de Marivaux, escritor francês do século XVIII) glacial, através dos quais Freda nos dá sua visão do século XVIII. Ele coloca aqui com brio o seu universo pessoal: um mundo de perfídia, de cálculo e crueldade, onde a sinceridade é sempre perdedora, iluminado por uma elegante luz crepuscular. Como sempre em Freda, o aspecto plástico do filme ( cenário, figurino, fotografia) é extremamente cuidado, mas de forma alguma cultivado por ele mesmo.Ele se encontra sempre maravilhosamente situado em uma concepção ultra-dinâmica da narrativa cinematográfica. Neste sentido, as seqüências finais da perseguição de trenós, que utilizam todas as variações do branco, são exemplares. Possuem um belo fôlego rítmico e destilam, mesclada à suntuosidade visual, uma nota de desencantamento e de amargura características do autor.
Jacques Lourcelles
Tradução: Luiz Soares Júnior.
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