Longe do neo-realismo, Freda assina com La leggenda del Piave um filme formalmente riquíssimo que toma elementos emprestados do melodrama, do filme de aventuras, do afresco histórico. A matéria do filme repousa sobre contrastes violentos: heroísmo e covardia ( vistos aqui no interior de um mesmo personagem, portanto fora de todo maniqueísmo) , doçura e brutalidade, exaltação e desânimo, vitória e derrota. Ela se sustenta também na exaltação sistemática dos sentimentos fortes, que buscam a retomada das fontes de toda aventura e de toda História. O filme acolhe o realismo, mas com a condição de que este possua uma dimensão épica, que ultrapasse a anedota e a simples verdade do momento.Trata-se, para Freda, de reencontrar na história particular de um lugar e de uma época o que ela pode ter em comum, em seu registro do grandioso, do heróico e do passional, com outros lugares e épocas. Freda é, com efeito, animado pela visão de uma espécie de eternidade da História, que se poderia também chamar de poesia. Sua mise em scéne é particularmente forte nas cenas de ação e movimento, acolhendo o espaço onde se esvai uma multidão desvairada e indivíduos tomados por sentimentos extremos. O découpage, vívido e variado, utiliza toda a gama de planos. O filme tem também a originalidade de manter na narrativa, com igual nível de interesse, um ponto de vista masculino e feminino ( dualidade que se encontrava já no Passaporte rosso, de Guido Bignone). Esta originalidade implica aqui uma fusão insólita e interessante entre o melodrama e o filme de guerra.
Nota: Como sempre em Freda, a filmagem foi muito rápida, sobretudo em se tratando de um filme com muitos figurantes ( 4 semanas, nos arredores de Roma). Jacques Lourcelles Tradução: Luiz Soares Júnior.
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