1. A pesquisa plástica conta muito nesta visão do cômico. Rozier pinta aquarelas em movimento, que divertem e querem fazer rir. Para uma parte do público, já aí ocorre uma incompatibilidade. O cômico deve ser brutal, grosseiro, cínico ou devastador. Não que a ironia esteja ausente de seus filmes. Mas ela é voluntariamente difusa, diluída, deslavada se poderia mesmo dizer, como a cor azul em um céu de chuva.
2. Uma comicidade bem contemplativa. Filmar Du couté d’Ouroet é filmar do lado de Flaherty. Aqui,a imobilidade, o movimento lento são mais engraçados que o movimento vívido. Outro obstáculo, e desta vez para um público ainda mais vasto: o autor, no interior de seus filmes, comenta pouco e não explica nada. É preciso olhá-los ( les regarder) para compreendê-los.
3. O único presente, o “puro” presente interessa a Rozier, cortado tanto quanto possível de seus laços com o passado e com o futuro. O presente, ou seja, o instante, o impalpável e inassimilável instante que unicamente a câmera consegue captar é então dilatado, observado sob uma lupa pelo autor. Por sua milagrosa forma de filmar, este presente torna-se também um presente mágico , recomposto, o presente da memória e da poesia. Filmar Du couté de Orouet é filmar agora do lado de Ozu, e Du couté de Orouet é o único filme francês que se assemelha, por exemplo, a Dias de juventude, do mestre japonês. Os dois filmes exprimem, a partir da observação dos fatos mais simples, uma insidiosa e poderosa nostalgia.
4. Nesta busca pelo instante, nada de “excessivamente preparado, controlado” ( rien de trop preparé) deve contrariar a gênese e o desabrochar espontâneos do filme. O roteiro, contido inteiramente na cabeça do realizador, se reduz a um canevas sobre o qual os intérpretes vão estabelecer bordados, utilizando às vezes alguma coisa de suas relações fora do set.
5. Rozier se recusa a fazer intervir qualquer evento importante na ação. Graças sobretudo ao realismo dos diálogos e da pista de som, ele nos aproxima intimamente dos personagens, dando a ver suas menores , mais derisórias aventuras, as mais fúteis , as mais estreitamente pessoais. Apesar disso, ou talvez por causa disso, seus filmes são verdadeiras comédias de costumes, uma mina de observações, um espelho da época e das pessoas. Ver em particular a perturbação dos personagens quando distanciados de seus hábitos urbanos, sendo obrigados a reaprender a cozinhar, a se alimentar, etc. Ver também, da parte deles, uma certa incapacidade para a felicidade, apesar justamente da felicidade ser sua única preocupação, ocupar constantemente seus pensamentos e desejos. Pode-se fazer aqui a mesma observação usada para Leenhardt e o seu Derniéres vacances: são sempre os poetas que fazem a melhor sociologia.
Nota: o filme, rodado em 16mm, jamais foi “expandido” para 35mm, o que explica o caráter confidencial de sua distribuição.
Tradução: Luiz Soares Júnior.
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