quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Objective Burma!, Raoul Walsh

Uma das grandes obras-primas de Walsh e a obra-prima do filme de guerra americano (com The naked and the dead do próprio Walsh e Merril’s Marauders de Fuller). Em dois filmes precedentes com Errol Flyn, Walsh havia pintado a Guerra como um jogo (Desperate Journey), como uma ocasião insólita e inesperada de redenção individual ( Uncertain Glory). Ele a mostra em Objective Burma! como uma aventura coletiva grave e que mobiliza de todas as energias. O jogo interpretativo de Flyn, sem arabescos nem ironia, é o espelho destas intenções. É aqui o triunfo absoluto da arte clássica, onde o concreto e o abstrato,a descrição analítica e sintética da realidade, o emprego dos closes e dos planos gerais, o “subentendido” ( litote) e o espetacular se harmonizam com perfeição e dão lugar a uma obra que, realizada com urgência” ( à chaud) em um contexto e com fins militares precisos, atinge imediatamente ao intemporal. Ver-se-á esta obra em cinqüenta anos com a mesma admiração que ela inspira hoje.
O filme é fascinante pelo gênio com o qual Walsh decompõe constantemente as diferentes fases de uma ação, as diversas reações dos que as realizam, a fim de recompô-las quase em seguida, dando uma visão global desta ação e da atitude física e mental dos combatentes.Quer se trate das múltiplas atividades do campo interrompidas pelo anúncio de um briefing em certa hora; da calma, nervosismo ou ansiedade dos pára-quedistas antes do salto; do próprio salto; das diversas atitudes dos soldados confrontados à fadiga, ao perigo, desânimo ou a uma renovação de esperança e energia, Walsh opera uma síntese da realidade que engloba todos os seus aspectos, sem privilegiar artificialmente nenhum. O filme não esconde que é a descrição de uma vitória ainda não totalmente conquistada. Com uma espantosa sobriedade ( e que contrasta com o tom um tanto pomposo dos filmes de guerra da época), Walsh mostra-nos esta vitória em germe, e mais que em germe, na solidariedade profunda, tangível dos membros da equipe e de seu chefe. Cada homem, tanto por vontade própria quanto por necessidade visceral de sobrevivência, se funde no grupo e no processo da ação a realizar.
Embora demarque cada personagem com características próprias, Walsh foge do pitoresco fordiano, assim como destas observações neuróticas que abundam nos filmes de guerra hollywoodianos dos anos 50. No coração do combate levado por seu país, ele intenta testemunhar que o perigo, a urgência, a vontade de sobrevivência, a coragem suscitam, na célula sã que ele escolheu para examinar, reações imunitárias contra os riscos de destruição interna e reações de agressividade contra o inimigo externo. Ele quer mostrar também que, em ambos os casos, estas reações são suficientemente poderosas para obterem a vitória. Uma parte de esperança, outra de realismo ( uma parte igualmente de sobrenatural cósmico, sensível na maneira de filmar e de apreender a Natureza) animam também esta obra onde Walsh, graças a seus talentos de cronista, pintor e poeta épico, pôde captar o instante com um imenso recuo, e conferir a uma página da História imediata os acentos da Eternidade.

Nota: O filme, em seus diversos relançamentos, foi frequentemente amputado. O vídeo comercial Warner Home vídeo apresenta a duração original do filme em v. original legendada ( sob o título Objective burma!). Excelente restituição da foto de James Wong Howe.
Jacques Lourcelles
Tradução: Luiz Soares Júnior.

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