quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Os carrascos também morrem, Fritz Lang

A opressão exercida em 1941 pelos nazistas sobre Praga e a resistência de seus habitantes são o assunto desse filme realizado em 1942 por Fritz Lang, adaptado de um roteiro original de Bertolt Brecht. A música é de Hanns Eisler e a foto é de James Wong Howe, fotógrafo de Sua Única Saída e Um Punhado de Bravos de Raoul Walsh que estão, junto a Os Carrascos Também Morrem, entre os primeiros filmes americanos de grande importância. Insistiremos portanto quanto ao fato de que Carrascos... representa uma colaboração entre Lang e Wong Howe. Após sua chegada nos E.U.A. foram, até 1942, diretores de fotografia de seus filmes: Joseph Ruttenberg, Leon Shamroy, Charles Lang Jr., George Barnes, Edward Cronjager e Arthur Miller. A superioridade de Wong Howe determina diretamente uma melhor expressão das intenções de Lang. Durante cento e trinta minutos de projeção, Carrascos prova a que ponto os problemas de luz são integrados à mise en scène, e como eles podem estimular a força dessa mise en scène. Não existe a possibilidade de um trabalho completo sobre um ator fora de uma certa comunhão de idéias entre o realizador e o fotógrafo, de uma colaboração íntima em vista das metas a se alcançar. Um plano mal iluminado é imediatamente esvaziado de seu sangue. Aqueles que conhecem a foto de Wong Howe para A Embriaguez do Sucesso (The Sweet Smell of Success) de Alexander Mackendrick sabem que ela permite imagens de uma grande brutalidade. Ora, basta se ter refletido pouco sobre o que deve ser e o que pode ser a mise en scène para se pressentir a necessidade dessa brutalidade. Todos os grandes romances, « Bon pied bon œil » de Roger Vailland, ou « La Corrida » de Michel Déon, são brutais. Da mesma forma, encenar, é se engajar na brutalidade em relação a si mesmo e ao mundo. A situação de um grande filme é sempre de ir contra a cegueira de seus contemporâneos. Nós somos portanto persuadidos que se, de uma maneira geral, as intenções de Fritz Lang não coincidem inteiramente com as de Bertolt Brecht, ao menos elas estão longe de lhes serem alheias (o crítico brechtiano Louis Marcorelles escreveu o contrário) e até mesmo se reencontram no que tange essa questão. Daí o caráter próprio a cada filme de Lang como a cada filme de Losey de ser teatral, de consagrar a duração do espetáculo à exposição dos fatos, dos impulsos e dos sentimentos. Trata-se de fazer com que a verdade se instaure sobre uma questão, isto quer dizer que se propague, que exponha as implicações sociais, econômicas, sentimentais, sexuais e familiares. Nesse sentido, o diálogo de Brecht, que a cada momento precisa onde está a responsabilidade de cada personagem, elimina todo o mistério e precipita a ação.
Da mesma forma, a mise en scène de Lang, em Carrascos e em outros filmes, elimina todo o mistério e precipita a ação. Como alcançar a mise en scène de Carrascos e a de O Tigre de Bengala, quais são as qualidades requisitadas? Uma boa memória e um exercício razoável dos sentidos. Em suma, não é falso crer que o talento ou o gênio não existem, pois apenas o trabalho conta (o trabalho do artesão e do técnico). Lembremo-nos de Joseph Losey falando de Bertolt Brecht: « A verdade não é absoluta mas ela é precisa. » Um policial não se expressaria de outra forma e exigiria: a verdade deve ser estabelecida com exatidão. Eis um desejo que é ao mesmo tempo o mais humilde e o mais pungente. Carrascos não é mais que uma visão um pouco mais exata das coisas. Espetáculo excepcional e todavia natural a quaisquer uns. Quem são esses e como reconhecer suas vozes, a questão está alhures. Visto que tudo está no método, é necessário citar Georges Bataille: « Se você tiver a paciência, a coragem também de ler meu livro, estudaremos, conforme as regras de uma razão que não descansa, soluções para problemas políticos procedentes de uma sabedoria tradicional, mas encontraremos igualmente essa afirmação: que o ato sexual é no tempo aquilo que o tigre é no espaço » Para concluir, diremos que a brutalidade é um método e a própria honestidade.


Marc C. Bernard Présence du Cinéma n° 10, janeiro de 1962
Tradução: Bruno Andrade.

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