quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

The Gipsy and the Gentleman, Joseph Losey 1957


Terceiro longa-metragem de Losey em seu exílio londrino. Este filme extravagante e barroco- na linha das produções Gainsborough, tipo The man in grey e The Wicket lady, ambos de Leslie Arliss, 1943 e 45-, é um pontos altos de sua obra menos conhecidos e mal amados. Mal amado em primeiro lugar pelo próprio Losey, em razão das péssimas condições de filmagem (desentendimento com o produtor Maurice Cowan; abandono do filme antes do mixagem e a montagem final; cortes prejudiciais praticados pela produção após este abandono). Em seguida, mal amado pelo público inglês, que se entediou com o filme. No entanto, o projeto não havia começado mal: foi na época o maior orçamento de Losey que, segundo disse, desejava fazer de seu primeiro filme de época uma narrativa de caráter walshiano (veine walshienne). Gipsy não consegue evitar certos defeitos de ritmo. Construído desde o princípio, e sem dúvida precipitadamente, em curtas seqüências secas e incisivas, no seu desenrolar a narrativa não consegue acelerar o ritmo, tal como exigido pela intriga. A partir da segunda parte, ele arrefece um pouco para readquirir vigor ao final, que constitui um dos mais belos finais da história do cinema. Mas em seu conjunto, Gipsy tem tantas qualidades que pode-se mesmo chegar a considerar que é o último “verdadeiro” filme de Losey, aquele em todo caso onde se exprime, sem dúvida pela última vez, seu talento mais autêntico e precioso. Em particular, todas as seqüências caracterizadas pela irrupção de um elemento violento na ação e pela valorização deste elemento na dimensão plástica do filme atingem o gênio: a atmosfera do filme eleva-se em grau na tensão, elegância e fascinação trágicas. (Ver por exemplo a cena, no entanto pouco importante na economia geral da história, da vandalização da propriedade pelo cigano selvagem).

O tema da decadência aparece pela primeira vez claramente na obra de Losey (encontraremos as premissas em Time without pity) e se inscreve concretamente nos aspectos visuais e dramáticos do filme. A decadência não é um tema de discurso, um pretexto para arabescos e figuras de retórica mais ou menos vãs, como será o caso frequentemente nas obras ulteriores de Losey. A decadência, resultado ao mesmo tempo da situação de uma classe na sociedade e da evolução individual de um personagem pertencente a esta classe (aqui, Paul Deverill), é designada por Losey como o momento a partir do qual os fortes tornam-se fracos e são incapazes neste estado de sobrepujar influências que em outros tempos eles teriam rejeitado ou digerido sem nenhuma dificuldade. A partir deste ponto, o equilíbrio psicológico e moral de um indivíduo, seu gosto do risco, sua vontade de viver vão se abismar com ele em uma vertigem, uma atração mórbida pela destruição, pelo naufrágio e pela morte.

Jacques Lourcelles. Tradução: Luiz Soares Júnior.

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