sexta-feira, 15 de maio de 2009

Alexander Névski

Como O Encouraçado Potenkim, trata-se aqui também de uma encomenda
( pessoalmente mantida por Stalin) que Eisenstein realiza. Os fins do filme são patrióticos e realizados com vistas a um futuro imediato. Não se trata mais de exprimir a ideologia marxista, mas de ilustrar uma propaganda nacionalista, e isto a tal ponto que Brasillach e Bardèche puderam apreciar no Névski “ o mais comovente dos filmes fascistas”. Efetivamente, Eisenstein emprega a figura da “metáfora histórica desviada”, utilizada com frequência na época no cinema fascista italiano e no cinema nazista. Com a ideologia marxista desapareciam também em Eisenstein os parti-pris formais que ele engendrou e a criatividade que estes tinham trazido para A greve e Encouraçado Potenkim. Aqui, o formalismo eisensteiniano se limita a construir para o herói Alexandre uma estátua decorativa, mas se mostra mais feliz quando se presta a pesquisas plásticas e estetizantes no célebre “morceau de bravoure” da batalha sobre o lago.
O cinema falado não trouxe nada para Eisenstein. Este não possui nenhum sentido do diálogo dramático, e as discussões entre personagens filmadas em planos aproximados demonstram um crasso academicismo; cada ator declama seu texto como um folheto verbal. O esforço de caracterização dos dois amantes de Olga é extremamente desajeitado, assim como as cenas do epílogo, após o combate. Este filme de 1938 poderia ser de 1932 ou 1933. O cinema falado só interessa a Eisenstein enquanto sonoro, e permite anexar às imagens o contraponto da admirável música de Prokofiev e dos coros cantados em off. No que se refere ao combate do lago, esta longa sequência de trinta minutos, a única que merece atenção no filme, vale sobretudo por seus planos gerais. Sua beleza plástica é devida aos capacetes e armaduras dos cavaleiros, aos movimentos da multidão quando esta é reduzida a colisões pictoriais de volumes, massas e linhas. Os planos aproximados, mostrando soldados russos que proferem uma ou duas frases enquanto combatem os adversários, se integram mal ao conjunto e são frequentemente catastróficos. A idéia do lago que se fende, espetacular em seu princípio, só se mostra enquanto tal na tela em um único plano, extremamente elíptico: o plano do cavaleiro parcialmente afundado no lago, cuja túnica acaba por ser tragada pelas águas. ( É verdade que a seqüência do lago foi rodada em julho, em terra firme).

Neste filme ilegítimo e desigual, que o próprio diretor julgou a mais superficial e menos pessoal de suas obras, Eisenstein está à vontade com as armaduras, os capacetes, a estratégia abstrata do combate, as massas brancas do lago e do céu, os cavalos, a natureza. Mas ele não sabe o que fazer dos homens. Eles só aparecem no prólogo e no epílogo ( que mesmo assim ocupam dois terços da duração do filme), para destilar a mensagem patriótica e nacionalista. Eisenstein, em Alexander Névski, ainda não aprendeu a integrar o homem em seu formalismo, agora que este formalismo suplantou em sua obra a ideologia. Para tanto, lhe seriam necessários ainda as duas épocas, os tormentos e a maldição de Ivan, o Terrível.
Jacques Lourcelles
Tradução: Luiz Soares Júnior.

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