quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Rancho Notorius, Fritz Lang

Este filme sublime passa completamente desapercebido em sua saída. Mesmo o Cahiers du Cinema, apesar de atentos à carreira americana de Lang, não lhe consagraram nenhuma crítica. Último dos 3 westerns de Lang, é o único onde o cineasta integra completamente os dados do gênero a seu universo íntimo. Os temas languianos da vingança, violência, solidão, das sociedades secretas encontram aqui uma expressão ao mesmo tempo renovada e exótica, embora ela se insira admiravelmente no cadre tradicional do western. Sobre o plano formal, o tempo é objeto de uma utilização extremamente variada. Três tipos de tempo existem no filme: o tempo da narrativa propriamente dita; aquele- concentrado- da sequência acompanhada pela balada-leitmotiv do filme, que resume a longa busca de indícios empreendida por Vern; enfim, o tempo dos três flash-backs que recompõem a figura mítica da aventureira Altar Keane, um personagem inteiramente condiconado por seu passado ( o que vale também para a própria atriz, Dietrich).No plano do sentido, este tempo é contudo absolutamente uniforme, congelado, privado de projeto e liberdade: é o tempo da vingança e de um mundo reduzido às dimensões de uma obsessão e de uma idéia fixa. O espaço do filme reflete a mesma dualidade. Variado e rico no plano formal, suntuoso , pesado, exuberante, quase barroco, é também um espaço fechado, morto, que não leva a nada senão à repetição cíclica, fatal, sangrenta dos fatos que deram origem à narrativa. A morte de Altar Keane no fim é um eco, entre outros, da morte da jovem assassinada na segunda seqüência.
O cenário de estúdio ultrajosamente artificial, que marca a fronteira entre o mundo exterior e o rancho, foi objeto de discussões e polêmicas entre os cinéfilos.Sem dúvida, Lang , se estivesse mais livre em relação a seus meios, teria escolhido um cenário natural. Mas tal como está, este cenário só faz reforçar, talvez de uma maneira um tanto quanto demonstrativa, a estrutura asfixiante, fechada desta história “de ódio, assassinato e vingança”, o caráter de absoluta impermeabilidade deste western pessimista e, até certo ponto, expressionista. Pesa, com efeito, sobre os personagens uma maldição mais pesada que a que resulta do pecado original nos filmes de Hitchcock. Estes personagens, quer sejam animados de boas ou más intenções, se reencontram do mesmo lado da fronteira- o mau lado. Ao longo de seu périplo, Vern Haskell pode apenas se destruir e destruir aqueles que o circundam; mas ele também não pode deixar de se vingar. Pertence a uma humanidade decaída, para a qual a noção de perdão não tem mais sentido ou mesmo existência. Ele pertence, como todos os homens, a uma raça maldita.
Jacques Lourcelles
Tradução: Luiz Soares Júnior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário