Dos espectadores da televisão francesa aos especialistas em cinema verdade, quase todo mundo tem condenado La Punition como um tipo de cinema mentira. Sua atitude é injustificada, uma vez que confundem três elementos bastante diferentes: filme, verdade, e cinema verdade. Por exemplo, não teríamos o direito de dizer que La Punition é ruim por ser inexato (os documentários de Rossif são verdadeiros, mas vejam só o resultado), ou por não ser um real exemplar do cinema verdade (The Rules of the Game também não o é), ou por seu diretor ou, mais precisamente, seu produtor (e a quem nós poderíamos dar crédito mediante um desacordo?) pudessem incorretamente associá-lo a tal. A verdade de La Punition não se torna aparente sem a participação ativa do espectador, que em conversações paralelas ou diante de seus pratos, enquanto tentam assistir ao filme, negligenciam sua correspondência. Não é este tipo de passividade que um ataque de nervos dramático estimula em você. O público tem de interpretar o filme ativamente para compreender a que nível de verdade ele se situa. Se a nossa atenção for lassa, perdemos o sentido do filme. É possível ver La Punition três ou quatro vezes sem que uma única vez aparente ser o mesmo filme. Mesmo que tivesse oito horas de duração, seria igualmente atrativo. Aqui temos um filme excitante, isento de erotismo e acessível a todos, que faria quebrar todos os recordes de bilheteria, caso o Francês não preferisse, ao invés de um cinema simples, direto (La Punition, Adieu Philippine, Procès de Jeanne), o maneirismo do cinema indireto (Melodie en sous-sol, La Grande Evasion, La Guerre des boutons), cujas inúteis digressões, aridez e repetição, no final das contas, refletem valores puramente comerciais.
Luc Moullet. Traduzido por Felipe Medeiros.
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