quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Andrei Roublev

1967 - URSS (175’). Real: Andrei Tarkovsky. Roteiro: Andrei Tarkovsky, Andrei Mikhalkov Kontchalovski. Foto: Vadim Youssov (Sovscope, alguns planos em cores). Música: Vjatcheslav Outchinnikov. Intérpretes: Anatoli Solonitzine (André ublev), Nikolai Sergeev (Teophane), Irma Raouch (a louca), Nicolai Bourliaiev (Boriska), Ivan Lapikov (Kyril), Iouri Nazarov (o duque), Sos Sarkissian (o cristo), Nikolai Bourliaiev (Boris).

O extremo formalismo do estilo de Tarkovski prolonga a tradição eisensteiniana e se separa radicalmente das duas principais tendências do cinema russo nos anos 60 e 70: a representação analítica e realista do presente (linha Panfilov); o desejo de reencontrar os laços profundos que unem o presente ao passado (linha Kontchalovsky e Mikhalkov). Assumindo o risco do esoterismo e mesmo da complacência esotérica, Tarkovski se interessa antes de tudo por estes impressionantes movimentos de câmera que petrificam o espaço de uma maneira sólida e surpreendente, às suas pesquisas de ambiências apocalípticas e extra-temporais. O tema abordado - a procura tateante de um humanismo espiritual, única trincheira contra a barbárie, o paganismo e os excessos da religião - lhe permite mergulhar nesta Idade Média indiferenciada onde se banha a maioria de seus filmes. Neste espaço fantasmagórico que é uma espécie de “berço do Ser”, o homem parece estar em gestação, criatura embrionária e ainda aprisionada no limo original, mas antes de tudo bestial, do qual é preciso arrancá-lo - e esta tarefa parece infinita - , a fim de que ele alcance um dia a consciência moral. A consciência tão somente. Na vanguarda deste esforço humano e sobre-humano se encontra o artista (Andrei Roublev, ou mesmo o jovem construtor de sinos), que arrasta atrás de si uma multidão de fantasmas, dos quais ele é ao mesmo tempo o pastor, o intérprete e a emanação suprema.

Jacques Lourcelles. Traduzido por Luiz Soares Júnior.

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